quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Música: Gabriel Ferrandini





O Jazz nos dias que correm apresenta-se em várias formas, umas mais melosas ou outras cheias de ritmos e acentuações, por vezes traduz-se em décadas de metamorfoses ou na historia da musica e do homem, e por outras, nem quer dizer nada. O Jazz, "esse desconhecido", surge-nos durante todo o mês de Fevereiro, num festival bem peculiar ( improvisivel ), de uma forma que o torna menos desconhecido e dá-se a conhecer, para quem assim o (quiser) entender. E entre polémicas, controvérsias, maus olhados e criticas mais ou menos construtivas a esse jazz tão desconhecido, o festival Improvisível traz a Lisboa o difícil de entender para tantos de uma forma bastante saudável: sem exageros e num ambiente caseiro quanto baste (afinal de contas, quem não quer assistir ao jazz rodeado de cds e vinys com alguns dos grandes nomes desse mesmo modo de fazer música?), saliento o exagero por, tantas vezes o experimental, o free jazz, o jazz sem barreiras, o jazz sem conteúdo ( já o vi com tanta roupagem e já lhe deram tanto nome, que, enfim), esse jazz todo que é uma miscelânea musical concentrada num único momento, é apresentado pelo festival Improvisivel de uma forma modesta, dando tempo de antena a cada um dos dois intervenientes da dita noite, e depois a oportunidade de estes se fundirem num duo para findar o concerto. Por um lado temos o facto de serem na sua maioria (julgo) solos e duos praticamente únicos, quem sabe alguns tomarão o gosto e ainda o fazem acontecer de novo; e por outro, o facto de mostrar alguns promissores nomes que não são tão conhecidos como merecem (mesmo que este assunto seja discutível.)

O primeiro dia do festival contou com a presença de Nuno Moita (responsável pela parte electrónica) e Gabriel Ferrandini ( percussão e bateria), ora a razão pela qual estou a estender este texto que seria mais que suficiente enquanto valorização da iniciativa no que toca ao festival, é pura e simplesmente pela surpresa que foi encontrar o monstro que acabou por se mostrar Gabriel Ferrandini. Mas comecemos pelo inicio, primeiro Nuno Moita ofereceu-nos uma viagem, talvez um pouco sóbria em demasia (e porque admito, ainda tenho alguma dificuldade em assistir a um homem atrás do laptop, imóvel, mas é ultrapassável), e não tanto poderosa quanto esperava no que toca ao contraste sonoro e ao potencial que um laptop consegue concentrar em si mesmo, mas isto que não o seja visto negativamente, sinceramente esperava algo mais brusco e acabou por ser um discurso lento mas suficientemente cuidado para embalar a audiência num transe saudável que é aquele de estarmos a ouvir e a sentir que a consciência do que quer que seja, deixa de se sentir, para simplesmente sermos arrastados por aquele fluir de sonoridades que não fazem de todo parte do nosso dia à dia e que ao mesmo tempo se tornam tão familiares. A grande surpresa encontrou-se em Gabriel Ferrandini: sejamos sinceros, a bateria, a percussão, por ser um instrumento(s) de ritmo, pode cair facilmente no caótico, num caótico em demasia. E se esse experimentalismo, que caracteriza o improviso e a ambiência do festival (e isto porque a forma do festival é facilmente identificada com a forma de fazer musica que é o jazz moderno, o jazz livre, o típico conhecido em praça publica como 'o cada um para o seu lado'), é muita das vezes visto como uma desconstrução, um ir contra a maré daquilo que o ouvido espera, Ferrandini surpreende, e no seu solo (e depois no duo com Moita) não só pela estonteante técnica e originalidade, como por uma eloquência que poucas vezes tive a oportunidade de assistir num outro instrumento qualquer mais dado às linhas melódicas. Não só se sentiu que Gabriel estava ali para nos dizer algo, como se sentiu, o seu inicio, o seu teor e o seu fim, passado por interlúdios vários marcados ora por uma agressividade que caminhava de mãos dadas a um brutal controlo de si e do instrumento, como a originalidade de ideias e a forma de as pôr em prática que transcendeu qualquer expectativa. Um nome que com toda a certeza se falará bastante, muito em breve. Não admira que o jovem baterista, aos 23 anos já acompanhe por exemplo o Motim Trio do grande (mas poucas vezes respeitado ou admirado cá dentro neste nosso portugal) Rodrigo Amado.

Bem hajam os jovens músicos, e que mais vezes nos dêem a conhecer esse desconhecido que é o jazz.

http://www.myspace.com/gferrandini

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