sábado, 26 de dezembro de 2009

Cartaz Teatro: Gogol e o seu Inspector !




A companhia de teatro A Barraca não poderia ter melhor prenda de ano novo do que a apresentação em palco de uma das maiores obras escritas por Nikolai Gogol. E quando digo de ano novo, significa literalmente no ano novo, ou seja, para quem quiser ter uma passagem de ano diferente, e com algumas gargalhadas valentes garantidas (e A Barraca disponibiliza logo depois da peça, os meios para os passinhos de dança que todos querem). Para quem preferir a ida à Barraca numa altura menos festiva e mais calma, talvez com menos dança mas com os mesmos ingredientes com toda a certeza, terá até dia 10 de Janeiro para o fazer.
Falando de Gogol: O Inspector Geral, pelas mãos da companhia A Barraca, apresenta um dos textos que mais vezes a sua formula fora utilizada sem que, na sua maioria, ninguém desse conta de tal facto, O Inspector resume-se (este 'resume-se' com um enorme peso nos ombros uma vez que fora escrito à cerca de 200 anos ) a uma das formas de exposição mais utilizadas desde o teatro ao cinema hollywoodesco, a sátira das sátiras diga-se, vasta o suficiente para cobrir povos e tempos sem dificuldade alguma, e precisa, talvez em demasia (para infortúnio de muitos), daqueles todos podres do ser humano, que tanto nos fazem rir. E é aqui que se encontra a genialidade de Gogol, juntando uma eloquência a uma precisão que se finge ingénua é através do riso que entrega algumas das mensagens que desde à 200 anos que alguns grandes homens e mulheres nos têm tentado mostrar. A não perder, para uns para uma boa noite, para outros para reflectir, para tantos outros, uma das melhores obras que a Rússia e o mundo teve a oportunidade de ler, e assistir.


de 30 de Dezembro a 10 de Janeiro ( Incluindo Passagem de ano com tango pela noite fora!)
5ª feira a Sábado às 21:30 & Domingo às 17:00 ( na sala 1 do TeatroCinearte)

12,5€ Bilhete Normal
10€ - Menores 25, Maiores 65, Profissionais Espectáculo, Estudantes, Reformados e
Grupos (+ 15 pessoas)
Preço Especial à Quinta Feira: 6,25€ ou 7,50€ (bilhete + programa do espectáculo)


Espectáculo Fim de Ano:
Preço único: 30€ - Espectáculo + Tango no Bar A Barraca

- Informações e Reservas: bilheteira@abarraca.com, 213965360, 213965275

"Uma minúscula autarquia de província vive o pesadelo da visita de um Inspector-Geral anunciada por carta a um presidente da câmara modelo de populismo, corrupção e ridículo.
Durante quase duzentos anos debateram-se opiniões sobre esta obra de Gogol. Estamos diante de uma sátira de costumes disse-se. De uma obra política? Outros defenderam “é uma obra de dimensão metafísica”, uma obra moral, um exercício de fantástico e de absurdo onde o sonho, o medo e o remorso dominam.
Felizmente vivemos um tempo que entrelaçou Brecht com Stanislasvki e Marx com Freud. Estamos livres para olhar para este impostor, estrangeiro, diabo, nada, com a liberdade de não querermos saber o que foi ele para Gogol, mas o que pode ser para nós hoje.
Para mim, se querem saber, estamos diante de tudo isso e de um escritor/artista a jogar às escondidas com o seu pânico. Mas sobretudo estamos num Baile de Máscaras onde ninguém é quem mostra ou, sequer, quem julga ser. No coração das trevas, lá mesmo onde o teatro acendeu uma luz. Uma obra que permite a actores e directores a realização de grandes trabalhos e ao público um arraial de gargalhada." (texto de A Barraca)

Site: http://www.abarraca.com/info/emcenainspectorgeral.html

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Música: Toking Cratch




Fora a primeira vez que entrara no espaço Bacalhoeiro (junto à rua da madalena, ou melhor, na rua dos bacalhoeiros), a entrada custara um pouco por se ter que pagar uma cota de sócio (mas que viria a mostrar-se de valor uma vez que só se paga uma vez, por um ano de concertos numa óptima agenda que se veio a revelar minutos depois, dj's, jazz, exibição de clássicos cinematográficos, etc), logo de seguida o barulhento mas acolhedor ambiente do Bacalhoeiro (uma zona onde se pode ou beber um copo ou jantar) encorajava a escolher um dos confortáveis cantos, cadeiras e sofás numa distribuição de luz que deixa qualquer um em casa, depois para o ultimo acto da descoberta do Bacalhoeiro, descer as escadas para um dos mais estranhos mas gratificantes concertos que alguma vez experimentara.

Bem vindo ao mundo de Ian Carlo Mendoza, luzes, ruídos, estática, melodia( s), ruídos, acção! :

Não conhecera o músico em questão por acaso, Mendoza é o músico residente que acompanha o grupo os Improváveis, ( FirstMixtape / Improvaveis ) e fora aí que tinha tido a primeira possibilidade de entrar em contacto com este invulgar mundo, talvez esse tenha sido o factor responsável por ter passado logo à fase de entranhar, sem passar pela fase de estranhar, mas diga-se de passagem, aconselho a todos, que vão estranhar, e entranhar a musicalidade de Ian Carlo Mendoza.

O performer, artista e músico, oferece cerca de uma hora ( neste projecto chamado Toking Cratch) de um non-sense musical com uma coerência épica! Todo o concerto, actuação (chamem o que lhe quiserem, a descrição é difícil diga-se), oscila entre uma performance a cru de Ian Carlo (que em breves momentos se faz acompanhar do irmão e de uma dj) que mistura o teatro, a performance corporal e alguns dos ritmos mais peculiares que alguma vez se poderá experienciar (fazendo lembrar aquelas enormes produções de instrumentos rítmicos, com a pequena diferença que aqui é apenas um par de mãos), para não estragar a surpresa, não vou ditar ao pormenor a sua forma, mas sim um pouco do que tem para oferecer, existe um certo gibberish linguístico inerente na teatralidade de Mendoza, mas repito, um non-sense coerente, isto é, da amostra tribal ao sample e excerto músical disposto por uma dj, Ian Carlo oscila entre ritmos e as mais diversas formas de fazer ritmos às mais brilhantes texturas melódicas que se encontram entre o reflexo introspectivo e a explosão corporal e conceptual do nada, ao tudo. Para quem quiser, é apenas um homem, cores e sentidos que saltam e exaltam, para quem não o quiser, é um homem e uma bagagem inteira cheia de brinquedos, ferramentas, objectos fora de contexto que criam e recriam o contexto e o texto que Ian Carlo Mendoza dispõe, coberto de pormenores que serão diferentes em cada das performances. É garantido que ou se saboreia uma hora de movimentos sem sentido aparente mas de uma enorme boa disposição e algumas boas gargalhadas de tão fora do contexto ou simplesmente se aproveita a viagem de uma embriagada hora de diferentes sentidos para meditar e sentir o pulsar de impulsos que é este enorme (mas simples) e peculiar mundo de Ian Carlo Mendonza.

Género: Non-sense Melódio / Ritmica incerta / Progressivo / Performance
Myspace: http://www.myspace.com/tokingcratchproject

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cartaz: O Noise Pop de Wavves !




Para todos aqueles que correram até ao algarve para assistir a My Bloody Valentine esta noticia não é novidade, mas para todos os outros, preparem-se para ouvir o miúdo que juntamente à sua guitarra e alguns efeitos roufenhos oferece algumas das mais interessantes viagens no panorama musical presente, uma oportunidade rara que não só traz o pequeno rapaz de Wavves como se faz acompanhar do baterista Zach Hill ( Hella ! ), para juntar os frenéticos ritmos a que já nos habituou ao noise lo-fi de Nathan Williams.


Cartaz: Wavves + Teengirl Fantasy
Onde: Galeria Zé Dos Bois http://www.zedosbois.org/
Quando: 19 de Dezembro, 2009


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Música: Tyondai Braxton !





Tudo começou com um guitarrista amigo que soltou a frase 'já ouvis-te o novo álbum de Tyondai Braxton?! mal acabei de ouvir, saltei logo para a loop station!' o entusiasmo parecia normal, com a nova vaga musical com acesso (como nunca antes ouve, não desta forma) a toda uma nova forma de ver e utilizar os pedais e efeitos, a cada dia que passa algo novo surge, algo novo aparece, há muito potencial e ainda muito por explorar na esfera do loop, mas mal sabia eu o que me esperava, talvez um dos álbuns de 2009 ou até de 2010.

Para quem não conhece Tyondai, este é filho de Anthony Braxton, saxofonista, e é membro de uma das bandas que mais surpreendeu e andou na boca dos críticos: Battles, com destaque para o álbum Mirrored. Braxton, o filho, desde 2002 que não lançava álbum a solo (o seu ultimo trabalho History That Has No Effect, e pelos vistos, valeu a pena a espera). Em Battles, juntamente a John Stanier (Helmet, Tomohawk), Ian Williams (Don Caballero) e David Konopka, na matemática musical que Battles representa(va) todos os membros já tinham dados nas vistas, Braxton incluído, alias, tanto os media como o panorama musical no geral, tanto admiravam (no seu inicio, como uma espécie de admiração a aliens que não se enquadravam em nenhuma das cenas estéticas presentes) como respeitavam os talentosos membros da banda Americana, mas nem Nova York nem o mundo adivinham que alguma vez Central Market surgisse da forma como surgiu, ninguém duvidava do seu potencial é certo, mas a força que Braxton alcança neste álbum, é das maiores surpresas de 2009, ultrapassando o bom, de longe.

Imagine-se então que Stockhausen encontra o famoso Disney's Fantasia, pelo caminho, numa espécie de orgasmo plástico Philip Glass junta-se à festa, algumas guitarras, uns pedais estranhos, maquinas de loops, e mistura-se o rock, o progressivo, e disto surge um tanto de non-sense pop que se expressa através de um som clássico contemporâneo, e então temos Central Market. Um álbum sério quanto baste, tanto na postura como no resultado mas que consegue através de uma esquizofonia controlada (como em The Duck And The Butcher por exemplo, talvez a parte mais de galhofa por parte do músico) oscilar entro sons mais descontraídos ou provocantes no que toca a sua seriedade, e a muitas progressões como já nos habituou em Battles. Resumidamente Braxton vem afirmar que tem algo a dizer, comprova de uma forma minimalista e modesta que possui algumas das mais belas técnicas de composição que esta década teve a oportunidade de escutar, mas que também cá está para fazer ruído, muito ruído, e tirar gozo, muito gozo disso. Seja através de Kazoos ou de um conjunto de cordas (neste caso para o álbum Braxton contou com a colaboração da New York Ensemble), Braxton mostra tudo o que de melhor foi deixado por Zappa até se confundir com um Stravinsky bem refrescado, tudo isto, alem de colossais influencias, Braxton encontra uma identidade que consegue fugir ao plano Battles para um algo muito próprio, muito novo, mas uma vanguarda modesta, note-se, em fase alguma Braxton produz som por ser diferente ou novo, Central Market é o culminar de um caminho que já à uma década Tyondai nos tem vindo a habituar, mas a verdade é que ninguém esperava que algo assim surgisse, o esplendor da repetição, a destreza do minimalismo, a beleza dos pormenores vocais e dos efeitos que marcam com toda a certeza a identidade, a grande identidade de Tyondai Braxton. Há muito experimental, há muita fusão, muita vanguarda, há uma das melhores experiencias estética destes últimos anos e dos que virão. Um álbum que transcende a própria época onde se insere.


Género:
Experimental / Avant Garde / Post-Rock / Noise
Myspace: http://www.myspace.com/tyondaibraxton
Download: http://rapidshare.com/files/306136113/Braxton__Tyonday_-_Central_Market_-_2009.zip

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cinema: Ágora!




Para quem espera muita acção, carnificina em nome de Deus (com hipótese de escolha neste campo) ou até um romance épico, então Agora é o filme indicado.


Bem vindos a Alexandria, século quarto depois de Cristo, e quando se dá o inicio da narrativa do filme de Alejandro Amenábar, a religião Cristã tinha começado a sua existência em solo romano com a aprovação do imperador, para grande infelicidade dos pagãs que por lá habitavam, e mais tarde dos Judeus; a fé superior tem de se impor às fés inferiores, e caso haja resistência, se levante a espada, a forquilha, as pedras e se espezinhe quem não respeitar o respectivo Deus em questão.

Há vários pontos a apontar à superprodução espanhola (toda ela falada em inglês), ora, a precisão histórica, está muitas das vezes muito aquém do que é esperado, das reacções de certas personagens, a atitudes e pensamentos que simplesmente na altura (por volta de 391 depois de Cristo) não tinham qualquer sentido, que muitas das vezes agiam como se estivessem nos dias de hoje; as personagens principais, ao invés de possuírem as fortes características que as fazem assumir papeis de grande importância ao longo da narrativa, parecem sim, crianças a quem lhes deram um cargo e que não sabem muito bem lidar com a situação, isto é, do escravo que de escravo tem pouco, a Orestes que na sua suposta determinação (que mais parecem atitudes inconsequentes (seja na sua fase mais nova à sua fase 'mais madura') e de quem tem pouca consciência do que o rodeia). Hypatia, a filosofa (também astrónoma e matemática) de filosofa tem pouco, isto é, tirando os momentos iniciais da sua apresentação que muito ao género de 'wiki information' é apresentada como a intelectual, toda a sua restante forma de pensar roça o infantil e de pouco racional (quando esta personagem, historicamente fora conhecida pela sua enorme racionalidade e o valor que dava a mesma), por um lado, as conclusões que tira, a forma como a narrativa está construída, faz parecer que pouco ou nenhum tempo levou a pensar em tais problemas, ou melhor que não levou a pensar em como resolve-los, porque, repetindo-me a personagem parece uma criancinha que tem um problema e que simplesmente sabe que o tem e que não o sabe resolver, uma vez que esta quando consegue chegar a uma conclusão, não parece nem do estudo dos céus nem do estudo matemático mas sim uma pura epifania que poderia ter acontecido sobre outra assunto qualquer, uma vez que representa uma filosofa é um facto um pouco triste a forma como é retratada, uma vez que a abordagem ao pensar dado pelo filme é um género de 'intelectualidade for dummies'. Continuando a seguir Hypatia, não se percebe como acontecem certos saltos na história, como por exemplo como acaba esta com Orestes, alem de que alguns dos factos históricos (como a historia do lenço com a menstruação da mesma) são colocados em contextos diferentes dos conhecidos para poderem fazer funcionar todo aquele trio amoroso que não se percebe até que ponto significa algo, isto é, continuando na postura infantil de Hypatia que parece até por vezes demasiado tonta, principalmente politicamente, o que é quase contraditório, uma vez que apesar de Hypatia ter sido condenada por bruxaria (dado o seu enorme interesse nos céus e na matemática), a razão pela qual supostamente é morta é por interferir no desempenho politico de Orestes, mas a verdade é que o filme pouco transmite que esta tem qualquer interesse politico ou que tem qualquer impacto, quando as suas interacções com esse campo são quase como que devaneios pouco calculados, mais uma vez, como que uma criança que fala sem saber do que fala, mas sabe que tem certo ponto de vista, e no fundo, Hypatia, era uma filosofa.

Mas deixemos Hypatia de lado agora, tirando a pouca coerência das personagens e a pouca força que estas transmitem, ainda mais quando representam papeis tão relevantes e determinantes na historia, sobra-nos a acção e a narrativa épica, que logo desde cedo o filme apresenta as suas cartas mais importantes (e que se repetem, e repetem ao longo do filme): a critica moral e as colossais cenas de acção onde multidões determinam o estado de todo o cenário e narrativa. Ora por um lado, temos o retratar de batalhas que de entusiasmante tem pouco, de figurinos que simplesmente correm pelos cenários a abanarem se, ao forçar do clima épico que o filme desde os seus primeiros minutos afirma que quer alcançar. E que alcança, mas é um épico de pouco conteúdo, isto é, o conteúdo encontra-se em personagens pouco trabalhadas, uma espécie de mistura de intelectualidade para crianças e uma tentativa de emocionar a audiência. Por um lado, tenta emocionar quem assiste a Agora por um romance ainda menos trabalhado que as próprias personagens: os rumores em relação à verdadeira Hypatia são que esta pouco valor dava às relações carnais, apenas o intelecto merecia interesse, mas a personagem surge a ter uma relação com Orestes que pouco ou nada tem de obvio como acontece, ou seja, nem se percebe como esta acaba por relacionar com Orestes, e porque acaba esta com tal personagem uma vez que a relação destes é mais que estranha, talvez porque neste caso os escritores estivessem a respeitar o facto histórico de esta não dar valorà relação carnal, mas se o estavam, isso também não é perceptível no filme! ; pelo outro lado, o filme tenta emocionar a audiência, através do sermão moral que transmite muito ao de leve (mas através de cenas mais que explicitas) durante todo o filme, neste caso, os maus da fita eram os cristãos, os fundamentalistas, os que rara foi a vez que foram representados como devotos a Deus, pelo lado da oração, mas sempre pelo lado da violência da agressividade, fazendo assim das restantes culturas e religiões, e praticantes destas os 'coitadinhos'. Dizendo isto, não estou a dizer que nem que a historia se tenha passado de outra forma ou não, simplesmente que a perspectiva usada (como por exemplo os cristãos serem sempre vistos como uma matilha vestida de preto) é para fazer existir um personagem, ou grupo destas, que fossem a parte má, e depois existindo assim uma parte oprimida e sofredora com que a audiência pudesse sentir condescendência e identificação, e assim emocionarem se com o decorrer da historia: é na minha opinião, uma triste escolha ainda mais quando quase parece uma alusão à historia que ainda hoje se escreve, num orientalismo versus ocidentalismo, não dando qualquer oportunidade de perceber a perspectiva do lado dos 'maus' e fazendo determinante que existe um lado bom e outro mau (onde obrigatoriamente, os bons tem a razão), e que esse mau, fundamentalista, apenas tinha como objectivo a destruição de tudo e todos para conseguir o poder: a verdade, é que quando digo isto, não tenho em mente nem estar do lado nem de uma nem de outra 'equipa', mas sim uma vez que nos dias que correm, cada vez mais as perspectivas dos factos históricos recentes é cada vez mais quadrada, acho, repito, triste, o querer comparar algo tão vivo como é a historia do médio oriente de agora, com algo onde simplesmente as regras eram outras, e assim para concluir aponto a ultima falha deste grande épico de Alexandria, a visão moderna de todo filme, a pouca dedicação a aprofundar o pensar, os comportamentos e dia a dia alem de um ou outro pormenor standart e cliche no género, as personagens agindo e mostrando pensar tal e qual como se estivessem nos dias de hoje, o que resulta num ambiente fraco apesar do enorme potencial.

Uma produção que vale a pena assistir para quem quiser conhecer ao de leve a história de Hypatia, vale também a pena assistir se se quiser observar de perto multidões enfurecidas e determinadas a fazer sofrer qualquer outro que lhe apareça a frente sem qualquer coerência ou lógica alem de uma 'maldade fundamentalista', vale a pena assistir para poder ter por momentos, um toque do que fora Alexandria noutra altura, fora isso, o longo filme pouco tem a acrescentar, seja historicamente ou cinematograficamente, e é com pouca estima que fico depois de assistir a um filme, que desde a fotografia à banda sonora (neste caso Dario Marianelli num dos seus trabalhos com menos profundidade tanto a nível musical como emocional, limitando-se a criar uma espécie de ambiente, uma theme para se associar e nos contextualizar com o local), tudo material de enorme potencial e que resulta num trabalho medíocre que preenche os requisitos mínimos, sendo emocionalmente quase nulo a não ser para a audiência que queira descarregar na violência cega as culpas daquilo que pouco sentido tem, o que acaba por ser irónico, uma vez que a personagem principal fora condenada pelo seu amor ao pensar, Agora apresenta-se como apontando quem foram exactamente os culpados de toda a destruição fundamentando a cegueira fundamentalista como obvia, ao invés de o filme convidar quem assiste a esta película a pensar mais, a pensar o porquê e a pensar com Hypatia (ainda mais quando os assuntos em questão são tão delicados). Há pouca coisa pensada em Agora, e isso reflecte-se em ultima instancia, nas bilheteiras.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Música: If Lucy Fell & Jemima Stehli



Portugal está a crescer (ou já está crescido?). Foi a primeira conclusão que ao fim de alguns minutos, consegui retirar da performance If Lucy Fell & Jemima Stehli. Por um lado, pela consistência que a banda If Lucy Fell já nos tem vindo a habituar, por outro, pela presença da artista Jemima Stehli, isto é, não pela presença desta por si só, mas pela presença de Stehli naquele ambiente em particular; seria de esperar vê-la em 'exposição' num vitrina qualquer outra onde várias pessoas de forte intelectualidade poderiam ir assistir à dita provocação por fazer parte de um ritual qualquer como é costume nas altas paradas da arte, mas não, Jemima Stehli veio apresentar-se e testar mais uma vez todo o conceito pelo qual é conhecida, juntamente do trabalho do grupo português do meio 'underground' e para os 'miudos' .

É com bastante gosto que revisito o concerto proporcionado, mas mesmo assim (há sempre um mas, afinal de contas é aí que está o desafio) há algo a apontar. Por partes: pela parte dos If Lucy Fell um ou outro pormenor técnico que ficara aquém do que era esperado, e na realidade, a expectativa era alta dado a presença invulgar da artista britânica; a voz com um volume demasiado baixo deixando pouco para quem a queria ouvir, e o mesmo se passava para a parte mais electrónica, que tirando dois momentos de maior destaque mal se notou a presença do mesmo. Com alguma pena minha a voz de Makoto não fluía pela sala meio cheia, mas isso não fora razão para os três restantes membros não assegurarem um concerto que prometia mais do que aquilo que acabou por oferecer até perto da uma da manhã, e quase uma hora de espectáculo. E antes de passarmos para as coisas boas, o facto de o concerto ter sido uma espécie de fast-food musical não ajudou a um outro factor, no paralelismo presente entre público e banda, o som era recebido por entre espasmos conjuntos no tempo e contra tempo do que se ia produzindo, um publico que não mostrou entusiasmo em demasia mas que se mexeu o suficiente para se poder marcar algum feedback corporal, a banda por esse ou por outra razão também não se esforçou mais em trabalhar essa relação e concentrando-se cada um no seu papel, estiveram para aquilo que era suposto estarem ali a fazer: música.

De uma forma geral, repito, o concerto, o som, fora consistente e teve a energia que era esperada, talvez tenham pecado os If Lucy Fell por terem faltado no extra mile. A explosão controlada por uma bateria incansável e os pujantes acordes de baixo que numa mistura de texturas contrastavam com a ambiência noise que fora conseguida com alguma excelência, e como já é costume os loops da guitarra como suporte para uma construção agressiva que oscilava entre uma constante e bem forte presença de baixo e bateria a culminar com a quase (quase, note-se) reminiscência de Masonna com o vocalista de If Lucy Fell a puxar dos efeitos do micro e com algumas pancadas neste, como acréscimo à viagem de ruidos e tons que todo o conjunto de pedais, loopstations e efeitos oferecem.

Jemima Stehli, a artista conhecida por desafiar o espectador da sua 'obra' a repensar da relação sujeito-objecto, obrigando ao despir-se, aquele que a observa a questionar quanto mais não seja, a razão pela qual está tal pessoa, nua. O objectivo de Stehli, não é criticar, mas tentar fazer com que quem a vê, critique, tendo três temáticas especificas em mente, narcisismo, desejo e sexualidade.
No concerto de dia 27 no ZDB com If Lucy Fell a reacção do público talvez tenha sido a menos esperada, isto é, de repente, a pessoa responsável por filmar o concerto, tira a roupa e fica tal e qual como veio ao mundo, como se de repente estivesse-mos a viver a revolução sexual americana, não pelo facto de Stehli se encontrar nua, mas sim pela naturalidade como tal acção fora recebida. Ou seja, o trabalho de Jemima Stehli, fora isso mesmo, o registo de vídeo que pouco se pode dizer acerca, uma captação intimista, do close up pessoal durante praticamente todo o concerto, dado ênfase durante vários momentos a cada elemento do grupo numa aproximação física quanto possível. A ironia encontra-se na provocação de Stehli, que ao querer determinar o inicio do (complicado) processo sujeito-objecto, acaba por encontrar um público que tirando uma inicial atenção brutalmente redobrada nos primeiros instantes à nudez exposta, todo o restante concerto teve como actor principal os If Lucy Fell, a novidade da nudez que deixa de ser novidade, por um lado essa condição é esperada, o não natural seria que alguém ficasse todo o concerto a olhar para o corpo da artista, mas neste caso, a idealização, o fetiche fora posto de lado e a musica assumiu o papel condutor da noite.
A dinâmica de fetiche/desejo fora desconstruída passando para a naturalidade do corpo nu, de repente Stehli que ao querer controlar o ambiente e a direcção da atenção do sujeito para com o objecto, destrói a dialéctica entre o desejo masculino e o próprio controlo da mulher por esse mesmo desejo, a musica neste caso como responsável por esse quebrar do ritual. Quando a artista feminina, tenta controlar a relação, produzindo deliberadamente, propositadamente o objecto do fetiche, o terceiro elemento retira-lhe completamente o controlo, o fetiche é esquecido e a sexualidade passa a ser parte consciente. Pela vertente mais narcisista, surge a pergunta: querendo questionar o inicio e propósito da imagem, não passará a artista responsável, pela nudez, a ser sujeito e não objecto nesse mesmo campo?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Música: Valerian Swing





Por agora, das poucas conclusões que se chega em relação ao que será da música, a resposta mais comum encontra-se sempre no cruzamento. Cruzamentos de sons, de técnicas, de géneros, de ambientes gostos e perdições. Fusões de fusões.
E entre um dos géneros que mais está em voga e em constante mutação e evolução - o math, mathrock - temos assistido a alguns dos melhores tecnicistas e criações musicais, entre dissonâncias e contratempos que alguma vez a esfera musical teve a oportunidade de assistir, seja pela rapidez, pela ambiência, de Don Caballero a Giraffes? Giraffes! passando por You Slut ou Battles, encontramos dentro do mesmo pacote sonoridades tão divergentes quanto possíveis de imaginar. E hoje venho falar de uma mistura que é pouco recorrente nesse mundo (para alguns, um mundo elitista) do math, mas que traz consigo alguma novidade. Valerian Swing:

"Is it difficult for explain our way of decontextualizing music"

Directamente da vila de Correggio, o trio italiano que depois da sua formação original passou a ser constituído por cinco elementos (estes cinco encontrados já no album "Draining Planning for Ears Reflectors"), recriou o que as repetições do math-rock e a atmosfera do post-rock tem para oferecer, como estes dois caminhos não pareciam suficientes, as vozes vieram ora suavizar ora fazer com que o quinteto italiano explodisse numa agressividade que encontra a voz e por vezes as guitarras do belíssimo screamo até (com grande surpresa) a oferecerem paisagens muito ao género de Dillinger Escape Plan .
Que dizer destes cinco rapazes? O inicio de "Draining Planning for Ears Reflectors" remete-nos para um math que faz lembrar Volta do Mar, ou uma vez que as vozes de Valerian Swing têm um maior ênfase que na banda americana (mas não demasiado 'suaves' como Maps and Atlases), é através deste característico math-rock que saltam para um melancólico post-rock que é certamente onde se começa a marcar a sua identidade. Isto porque, as vozes, poderão agradar aqueles que entre os saltos mais agressivos da banda, também esperam encontrar algo mais 'sensivel' (com franqueza, as vozes serão com certeza a parte mais generalista e mais aberta da banda a um publico não-especifico, julgo não haver qualquer problema nisso dado todas as restantes componentes da banda), todos esses, gostarão deste abrandamento, um algo mais calmo. Aqueles que esperam apenas a violência rítmica e os contra tempos gritados, irão torcer o nariz, a verdade, é que há dois pormenores que valem a pena salientar, um primeiro é que a banda está longe de se caracterizar uma banda agressiva unicamente: têm os seus momentos, muitas das vezes entre progressões e alternâncias de momentos e estados de espírito. E em segundo lugar, existe todo um trabalho instrumental por de trás das vozes que merecem uma excelente atenção, em particular o baterista que se aproxima por vezes de nomes como Zach Hill ou Jon Karel, isto sem menosprezar os restantes elementos que entre as harmonias dissonantes e os tappings com que se apresentam logo no inicio do album, acabam por saltar para momentos ao nível do bom screamo ou de um bom mathcore (que também tem muito que se lhe diga). Julgo não ser necessário dizer mais nada, que a musica de Valerian Swing, fale por si.

Genero: Progressivo / Math-Rock / Post-Rock

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Em Cartaz! Teatro: Hamlet!




Uma óptima interpretação da aclamada peça de Shakespeare "Hamlet", toda ela no original inglês. Um must see por parte da companhia The Lisbon Players no teatro inglês.


WHAT: Shakespeare’s HAMLET in English

WHERE: Estrela Hall, Rua da Estrela, 10

WHEN: Thursday to Saturday, 19th November until 12th December at 9.30 pm, Matinée: Sunday December 6th at 3pm

BOOKINGS: 21 396 1946 – leave a message.






website: http://www.lisbonplayers.com.pt
Fotografia por Carla Alexandra.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Cinema: Arnaud Desplechin





Por momentos, tentemos esquecer os biopicos, as novelas de puxar à lágrima e os emocionantes épicos dramáticos onde o impossível é o mais certo! Vamos nos voltar para o cinema europeu, afinal de contas, e muitos se esquecem de tal coisa, mas seja a nível de correntes, conceptual ou até histórico o cinema europeu em muitas das abordagens tem muito mais a dizer que o americano, seja pelo expressionismo alemão, pelo neo-realismo italiano ou pelo cinema novo português. O ponto de interesse aqui, como é obvio, não é de forma alguma comparar produtos cinematográficos, o ponto é, simplesmente o facto de que o cinema europeu está, a cada dia que passa a ser cada vez mais esquecido, basta tomar qualquer conjunto de cartazes de cinema do(s) ultimo ano(s). Apesar de tudo, a criação europeia não se tem deixado ficar e apesar de ser o cinema norte-americano quem predomina em todo o mundo, talvez com uma pequena excepção na Índia, o cinema europeu, nos últimos anos, quando Hollywood começa a entrar numa fase de saturação a atenção dada às películas europeias começa a ser outra, com algumas gigantescas (não a nível monetário, mas artístico) produções vindas de leste ou até mesmo do norte da Europa, e o cinema espanhol e francês como camisolas amarelas deste triste corrida pela sobrevivência cinematográfica. Fora o desabafo, hoje trago-vos, Arnaud Desplechin.

A tragédia grega falada em francês:

Em poucas palavras consegue-se traduzir o que significa a multitude de mundos que é o mundo do realizador francês, mas poucas palavras serão sempre palavras a menos, para um dos realizadores que mais surpreendeu na ultima década. Entre as várias formas dramáticas possíveis de trazer até ao espectador aquilo que é o dia a dia, Arnaud Desplechin trata o irrealismo natural como ferramenta preferencial para chegar ao que há de mais verdadeiro, não na cena, não nos actores, não directamente no texto; na mensagem. Para o realizador onde num filme dramático tem de existir quatro ideias para cada minuto, este marca os seus filmes pela impossibilidade do uso de small talk, fazendo então retornar as palavras, a poética, o sublime, o retornar destas a casa.
Através da lente, o uso da música do seu tempo e da excelente fotografia, percorrem lado a lado uma narrativa onde as palavras se atropelam na mais caótica das naturalidades, quando a única forma de alcançar o natural, o real, é através do mais irreal dos planos, o realizador francês atravessa o melodramático e a satírica comédia no descrever das cenas que pertencem e coincidem com todos nós, essa naturalidade que se forma e transforma através do caótico e do belo, a sobrevivência através da experiencia elevada a excelência.

Easther Kahn
Ano: 2000

-

Rois et Reine
Ano: 2004


-

Un Conte De Noel
Ano: 2008



"Em jeito de piada, Arnad Desplechin disse um dia que tina rodado "La Vie des morts" para dizer mal da sua família, "La Sentinelle" para dizer mal do seu país, "Comment Je me suis dispute.. (ma vie seuelle)" para dizer mal das suas antigas namoradas. Em "Un conte de Noel", o cineasta diz mal de si próprio"

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Teatro: Os Improváveis!



Não era a primeira vez que muitas das caras se reconheciam na audiência, também não era a primeira vez que essas mesmas pessoas iam a um improvável espectáculo do grupo de teatro de Desporto, Os Improváveis. Depois de um espectáculo em Sintra no espaço Reflexo no dia anterior, os Improváveis fazem a dobradinha e levam o teatro de improviso à sua casa habitual a casa da comédia em Santos, Lisboa.


Não é só por acaso que a audiência tende a repetir um espectáculo deste peculiar grupo de teatro, pioneiro em Portugal ao trazer o teatro de desporto para os palcos, onde atraves do improviso criam e recriam as personagens, os cenários e os textos que não existem, tudo isto só sendo possível com a existência de um publico que não só interage como participa e determina o caminho que os quatro ou cinco actores terão de enfrentar. Num trabalho que nunca falta na solidez e na refrescante abordagem de um mesmo palco, de um mesmo espaço, onde o grupo através de jogos leva ao limite a sua capacidade de improvisar, oscilando entre a sátira leve à comédia personalizada, tudo no momento!


Uma perspectiva teatral que vale a pena explorar e assistir, e que ainda com tão pouco tempo de existência já é capaz de receber as maiores ovações ou as melhores rosas. A não perder, a repetir, sem sombra de dúvida.


Website: http://www.teatrodesporto.com/

Facebook: http://www.facebook.com/teatrodesporto



sábado, 7 de novembro de 2009

Música: Errata Self Titled Ep




Nas constantes metamorfoses musicais nas quais nos encontramos hoje, surge um conjunto de cinco elementos reunidos em lisboa, que oscilando entre as raízes do screamo francês, ao mais variado post-hardcore, acaba num aclamado som épico.

Errata encontra-se indiscutivelmente como pioneiros de um post-screamo, uma fusão que reúne uma atmosfera melódica, que ora explode num caos organizado ora em paisagens sonoras que contrastam com os agressivos riffs de guitarra que desde o inicio do ep garantem saber qual o seu propósito.

Para terminar, referir uma peculiaridade que no palco do screamo de portugal é uma novidade, Errata confirma então o seu primeiro Ep e através deste, os sentidos ditados em português.


Género: Screamo/Post-Screamo/Post-Hardcore
Myspace: http://www.myspace.com/errataband
Download: http://www.megaupload.com/?d=3BJFT9O9 ou http://rapidshare.com/files/281963070/Errata_-_Errata.rar.html

Curta: Ya No Puede Caminar

Como primeiro post deste fresquíssimo blog, deixo-vos uma curta bem interessante, e mais um pequeno marco no cinema espanhol, cinema esse que ao longo dos últimos anos têm vindo a crescer como poucos outros. Nessa belíssima evolução que nos tem apresentado o nosso vizinho ibérico, o terror/horror tem vindo a marcar uma forte posição na industria cinematográfica, assim sendo, uma boa alternativa para superar o medo:

Titulo: Ya No Puede Caminar
Realizador: Luis Berdejo
Ano: 2001
imdb: http://www.imdb.com/title/tt0302051/

Your First Mixtape

Para encontrar tudo o resto, começa por aqui













.